O que explica a maior motivação das pessoas para encarar uma transição de carreira são as maiores chances de sucesso. Há mais empregos em diferentes áreas do conhecimento.

São Paulo – A essa necessidade de fugir da mesmice, o sociólogo francês Gilles Lipovetsky dá o nome de “don juanismo”, em alusão ao personagem Don Juan, do espanhol Fray Gabriel Telles, o qual conheceu mais de 1.000 mulheres. Para Gilles, o ser humano é um colecionador de experiências e teme que a vida passe sem que ele aproveite as diversas oportunidades (profissionais inclusive) que estão aí.

“Lutamos contra o tédio”, diz ele. Há também entre as pessoas que integram a força de trabalho hoje uma maior necessidade de encontrar satisfação no emprego. Mais que isso, há um desejo de fazer algo que traga felicidade. “Passamos da época em que o trabalho tinha de ser algo penoso”, explica Tania Casado, professora de comportamento organizacional da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP).

“Ele é uma etapa importante da vida. Por isso, tem de trazer realização.” Um terceiro motivador de mudança está relacionado ao ideal de sucesso, ou melhor, à angústia que muita gente sente por considerar que não se enquadra num estereótipo de vencedor.

“Atualmente, há um exagero de padrões: você precisa ganhar bem, ser conhecido, ser realizado”, diz a filósofa Bia Machado, professora da Casa do Saber, de São Paulo. “Quem não se enquadra fica desnorteado.” A saída, diz Bia, é fazer um processo de autoconhecimento e pensar a carreira no longo prazo. A pergunta a ser respondida é: “O que é bom para mim e só para mim?”.

Encontrar as respostas para essas e outras perguntas não precisa ser um exercício solitário. As redes sociais são um ótimo caminho para conhecer pessoas que já passaram por esse processo. No LinkedIn, dentro do canal Grupos, digitando “transição de carreira” você encontra pelo menos dez referências para comunidades que tratam do assunto. Uma delas é a Espaço dos Saberes, formada por 71 usuários.

Entre eles, orientadores de carreira da consultoria DBM, de São Paulo, que atua no segmento de outplacement, que nada mais é do que a recolocação das pessoas no mercado de trabalho. Entre seus clientes estão as maiores empresas do Brasil. Elas contratam a consultoria quando passam por processos de fusão ou reestruturação interna, com grande número de demissões.

Há alguns anos a DBM percebeu que mais pessoas, executivos em sua maioria, chegavam ao seu escritório querendo encontrar um novo horizonte de trabalho. Então montou um departamento de orientação de carreira. No último ano, quatro em cada dez clientes optaram por mudar de trajetória. Há dez anos, quando o serviço foi iniciado, de cada dez clientes apenas um tinha interesse em começar em uma nova atividade.

O que explica a maior motivação das pessoas para encarar uma transição de carreira são as maiores chances de sucesso. Há mais empregos em diferentes áreas do conhecimento. Além disso, os empregadores não se restringem apenas à sua região geográfica. A internet permite vender o trabalho além das fronteiras de sua cidade e de seu país.

As empresas também estão menos conservadoras. Os recrutadores aprenderam a reconhecer e a valorizar a diversidade de formação. Um exemplo é o do paulistano Ricardo Figueiredo, de 33 anos. Formado em educação física, ele atuou como fotógrafo profissional, analista e gerente de RH e agora trabalha na área comercial online do Google. Ainda assim, mesmo diante do novo cenário, mudar não é uma tarefa fácil. Requer esforço pessoal e alguma reserva financeira.

A seguir, veja seis cuidados que você deve tomar se estiver pensando em mudar de rumo profissional.

Trocar de área faz sentido se estiver alinhado com seu propósito de vida. Isso exige uma alta dose de autoconhecimento:
Tome cuidado para não fazer um movimento impulsivo. Muitos profissionais tomam decisões apressadas que são fundamentadas em dificuldades pessoais, modismo ou num salário mais atraente. É muito fácil se frustrar nesses casos.
O talento é tão importante quanto o desejo. Portanto, analise com cuidado quais são suas habilidades e seu estilo de vida, e se esses fatores estão em sintonia com a opção em mente.
É importante construir uma outra rede de contatos. Muitas vezes, a nova área possui valores e cultura próprios, que levam um tempo longo para ser aprendidos. Cursos e eventos são boas fontes de informação.
Mesmo que você tenha talento para a nova profissão é necessário avaliar a demanda do mercado e, eventualmente, definir etapas intermediárias para implementar o novo rumo.
Uma transição de carreira gera custos que devem ser considerados. É importante verificar se há recursos próprios suficientes para passar pela fase do aprendizado. Isso irá definir se é melhor deixar o atual trabalho e se dedicar plenamente à construção do sonho, ou ir de forma mais gradual, sem abandonar o emprego.
Trocar de carreira pode ser uma opção ou imposição — nova dinâmica de mercado, inserção de nova tecnologia, reengenharia de sua empresa. É importante ter em mente quais são suas competências e onde você pode aportá-las. Nas próximas páginas, você vai conhecer as histórias de pessoas que mudaram em diferentes estágios da vida. Para cada uma das etapas há itens distintos a serem postos na balança.

O planejamento financeiro também é diferente para cada situação. O consultor Gustavo Cerbasi ajuda a esclarecer o que levar em conta nos diferentes momentos da vida. Siga nosso manual, informe-se nas redes sociais, converse com pessoas mais experientes. Mudar e ser feliz está sob seu domínio. Mãos à obra

Fonte: Exame Abril

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